quarta-feira, 17 de julho de 2013

Ainda sobre o NAFF - Arte do Cinema

O NAFF  já terminou, mas como tínhamos prometido fica aqui os testemunhos do João Monteiro, Joana Santos e André Matos.


João Monteiro
O cinema de curtas-metragens em Portugal é um paradigma desconhecido para a grande maioria dos espectadores ou público assíduo de cinema em geral.

São muitos os filmes que revelam uma enorme qualidade e eficácia e tão poucos aqueles que conseguem ganhar algum relevo, algum destaque, de serem dados a conhecer ao público.

Filmes de uma variedade incrível feitos não só por profissionais como também por cinéfilos, amantes ou amadores.

Fazer um filme é sempre um desafio. Concretizar-se uma ideia em imagem e som implica todo um processo de produção, desconhecido para muitas pessoas.Todo um método de desenvolvimento, de ligação,de tempo, de dinheiro, de rigor, de empenho, de esforço e até de entrega pessoal a um projeto, tanto a nível intelectual como a nível físico.

Para isso torna-se imprescindível a criação de um ponto de encontro entre os responsáveis dos filmes, as equipas, e os consumidores.

O NAFF (Not A Film Festival) surge neste propósito, de se criar uma oportunidade a pessoas que queiram mostrar os seus filmes. Curtas-metragens de ficção, de documentário ou de experimentação ou pequenos excertos fílmicos. Um evento que permita, não só uma reunião com espectadores, como também a possibilidade de exibição em sala.

Dar-se a conhecer trabalhos de qualidade, expor-se filmes originais e criativos, ou outros tipos de produtos alternativos de entretenimento que o público procura. Filmes todos distintos, desde grandes produções, com orçamentos elevados, com um enorme trabalho artístico, a filmes muito bem conseguidos ao mesmo nível e com orçamentos tão reduzidos.


O cinema é sobretudo um trabalho de dedicação e,de certa forma, torna-se necessário a sua valorização. O NAFF, para além de ser uma mostra de filmes, pretende de igual modo ser um meio colaboradorna divulgação e promoção, realçando as verdadeiras potencialidades que tem o cinema português.


Joana Santos
https://vimeo.com/joanasantos
http://umajoanasantos.wordpress.com/
http://pt.linkedin.com/in/umajoanasantos
http://www.behance.net/Joana_Santos


Já me perguntei várias vezes “porque é que estou nesta área, o que é que me atrai”, podia ter seguido outro curso e se calhar estar melhor na vida, no entanto chego sempre à mesma conclusão – eu gosto de contar histórias, de mostrar o que me passa pela cabeça, de compor imagens, de brincar com a luz e com a montagem. Eu podia ter seguido outra área, mas duvido que tivesse o mesmo prazer que tenho quando faço algo relacionado com cinema, principalmente filmar.

O cinema é uma arte assim como a pintura, a escrita ou um simples desenho na parede, vem da nossa cabeça e das nossas vivências, do que sentimos num determinado momento, e que nos dá vontade de fazer um filme sobre a morte ou sobre aprender a andar de bicicleta.

Entristece-me ver o desligamento continuo que existe entre o povo Português e a cultura, nomeadamente o cinema, a não vontade de ver mais e conhecer mais. O cinema português não se resume a uns filmes (que achamos ser) maus que vimos há uns tempos, existe muito para além disso.

É importante perceber que é necessário evoluir, é isso que distingue os novos cineastas (os que saem das escolas ou os que simplesmente gostam de filmar) dos antigos. A grande parte dos filmes portugueses que hoje se fazem mostram a falta de preocupação com o público, são filmes para o realizador, de realizador ou “pseudos” como se costuma dizer, nada há de errado com eles, tirando o facto de não serem filmes para o público português, para já. Sempre que alguém liberta a mente e diz isto é atacado, porque somos jovens, não percebemos, não temos experiência. É verdade, mas também é verdade que somos a geração que mais explorou o cinema de fora, talvez, a geração que mais estudou e que mais percebe das novas tecnologias , da interacção com as pessoas, e acima de tudo, a geração que percebe o que quer ser visto no cinema. É verdade que não temos experiência, mas apenas porque não nos é dada a oportunidade e sempre que a temos, somos menosprezados, servimos para agarrar cabos, trazer cafés, actualizar páginas de facebook e fingir que escrevemos uns guiões que nunca são usados. Esta é a infeliz verdade do cinema português, um cinema que morre de medo da inovação, porquê? Talvez se pense que os actuais profissionais vão ficar sem trabalho, talvez isso aconteça ou talvez estes mestres do cinema se tornem bons professores.

A NAFF surgiu um pouco deste pensamento, achámos e continuamos a achar que existem por ai trabalhos que nunca foram vistos, por inúmeras razões. Decidimos dar-lhes uma oportunidade de serem exibidos independentemente do ano em que foram realizados. Para além disso, queríamos dar a conhecer o que é a curta-metragem, algo que muitas pessoas ainda não sabem  o que é.

Acredito que este modo de pensar ofenda algumas pessoas (apesar de não ser esse o objectivo), no entanto gostava de ver mais jovens a pronunciarem-se abertamente sobre o estado do cinema em Portugal, uma voz no meio da multidão não se faz ouvir sozinha.





André Matos
giradiscosestragados.tumblr.com
O meu pai disse-me uma vez, em pequeno, que quando fosse mais velho e crescesse, eventualmente, os filmes iriam aborrecer-me, que mais tarde deixaria de gostar de cinema. Até hoje, não aconteceu. Gosto muito de ver, e de por vezes, criar os meus filmes. E é acima de tudo, o amor pelas palavras e pelas imagens do cinema que me agita, me desassossega e me faz querer fazer algo mais.

Acredito que existem vozes que continuam por ouvir. E esse silêncio, por falta de força, ou por falta de criatividade para conseguir fazer ouvir o que têm para dizer - é o que me incomoda. Hoje não é necessário que murmurem – precisamos de pessoas que rujam, que se façam respeitar, no meio de todo o ruído; e que se distingam pela vozes que têm, e pelo modo em como dizem aquilo que pensam.  Falo de vozes jovens. Novas. Em ebulição. A arder. Prontas a mostrar e a provar que estão prontas para o futuro. Grande parte dos filmes portugueses que chegam à sala hoje em dia, soam-me a ecos antigos, a canções gastas e a vozes cansadas. Nesse sentido, eu, enquanto espectador, procuro encontrar-me com as vozes, que me querem falar do que é o hoje. Do que é gostar de alguém hoje em dia, do que é existir hoje, dos problemas de hoje – quero sentir-me próximo daquelas imagens e quero aprender algo com elas.

A NAFF foi criada com um propósito muito claro – A de ser um altifalante, de fazer ouvir e dar eco a quem não tem voz. Estes filmes de jovens artistas, que nunca se viram projectados, porque muitas vezes o meio não os permite romper essa barreira – agora, podem ser vistos, apreciados e experienciados, por todos aqueles que se quiserem encontrar com eles.

Estou muito feliz, porque vejo uma nova geração de criadores a nascer. A conceber filmes independentes, e que apesar de serem auto-financiados, com muito poucos meios – me apresentam novas perspectivas e novos olhares sobre a realidade. As dificuldades, estão a tornar-nos fortes, capazes e prontos de fazer nascer novos modos de criar e de se pensar cinema. Estou acima de tudo, feliz, por poder assisti-lo de perto e por poder fazer parte dessa frente.  Este movimento e vontade é evolução, estamos a crescer!  

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