João Monteiro |
O cinema de curtas-metragens em
Portugal é um paradigma desconhecido para a grande maioria dos espectadores ou
público assíduo de cinema em geral.
São muitos os filmes que revelam
uma enorme qualidade e eficácia e tão poucos aqueles que conseguem ganhar algum
relevo, algum destaque, de serem dados a conhecer ao público.
Filmes de uma variedade incrível
feitos não só por profissionais como também por cinéfilos, amantes ou amadores.
Fazer um filme é sempre um desafio.
Concretizar-se uma ideia em imagem e som implica todo um processo de produção,
desconhecido para muitas pessoas.Todo um método de desenvolvimento, de ligação,de
tempo, de dinheiro, de rigor, de empenho, de esforço e até de entrega pessoal a
um projeto, tanto a nível intelectual como a nível físico.
Para isso torna-se imprescindível a
criação de um ponto de encontro entre os responsáveis dos filmes, as equipas, e
os consumidores.
O NAFF (Not A Film Festival) surge
neste propósito, de se criar uma oportunidade a pessoas que queiram mostrar os
seus filmes. Curtas-metragens de ficção, de documentário ou de experimentação
ou pequenos excertos fílmicos. Um evento que permita, não só uma reunião com
espectadores, como também a possibilidade de exibição em sala.
Dar-se a conhecer trabalhos de
qualidade, expor-se filmes originais e criativos, ou outros tipos de produtos
alternativos de entretenimento que o público procura. Filmes todos distintos,
desde grandes produções, com orçamentos elevados, com um enorme trabalho
artístico, a filmes muito bem conseguidos ao mesmo nível e com orçamentos tão
reduzidos.
O cinema é sobretudo um trabalho de
dedicação e,de certa forma, torna-se necessário a sua valorização. O NAFF, para
além de ser uma mostra de filmes, pretende de igual modo ser um meio
colaboradorna divulgação e promoção, realçando as verdadeiras potencialidades
que tem o cinema português.
Joana Santos https://vimeo.com/joanasantos http://umajoanasantos.wordpress.com/ http://pt.linkedin.com/in/umajoanasantos http://www.behance.net/Joana_Santos |
Já me perguntei várias vezes “porque é que estou nesta área, o que é que
me atrai”, podia ter seguido outro curso e se calhar estar melhor na vida,
no entanto chego sempre à mesma conclusão – eu gosto de contar histórias, de mostrar
o que me passa pela cabeça, de compor imagens, de brincar com a luz e com a
montagem. Eu podia ter seguido outra área, mas duvido que tivesse o mesmo
prazer que tenho quando faço algo relacionado com cinema, principalmente
filmar.
O cinema é uma arte assim como a
pintura, a escrita ou um simples desenho na parede, vem da nossa cabeça e das
nossas vivências, do que sentimos num determinado momento, e que nos dá vontade
de fazer um filme sobre a morte ou sobre aprender a andar de bicicleta.
Entristece-me ver o desligamento
continuo que existe entre o povo Português e a cultura, nomeadamente o cinema,
a não vontade de ver mais e conhecer mais. O cinema português não se resume a
uns filmes (que achamos ser) maus que vimos há uns tempos, existe muito para
além disso.
É importante perceber que é necessário
evoluir, é isso que distingue os novos cineastas (os que saem das escolas ou os
que simplesmente gostam de filmar) dos antigos. A grande parte dos filmes
portugueses que hoje se fazem mostram a falta de preocupação com o público, são
filmes para o realizador, de realizador ou “pseudos” como se costuma dizer,
nada há de errado com eles, tirando o facto de não serem filmes para o público
português, para já. Sempre que alguém liberta a mente e diz isto é atacado,
porque somos jovens, não percebemos, não temos experiência. É verdade, mas
também é verdade que somos a geração que mais explorou o cinema de fora,
talvez, a geração que mais estudou e que mais percebe das novas tecnologias ,
da interacção com as pessoas, e acima de tudo, a geração que percebe o que quer
ser visto no cinema. É verdade que não temos experiência, mas apenas porque não
nos é dada a oportunidade e sempre que a temos, somos menosprezados, servimos
para agarrar cabos, trazer cafés, actualizar páginas de facebook e fingir que
escrevemos uns guiões que nunca são usados. Esta é a infeliz verdade do cinema
português, um cinema que morre de medo da inovação, porquê? Talvez se pense que
os actuais profissionais vão ficar sem trabalho, talvez isso aconteça ou talvez
estes mestres do cinema se tornem
bons professores.
A NAFF surgiu um pouco deste pensamento,
achámos e continuamos a achar que existem por ai trabalhos que nunca foram
vistos, por inúmeras razões. Decidimos dar-lhes uma oportunidade de serem
exibidos independentemente do ano em que foram realizados. Para além disso,
queríamos dar a conhecer o que é a curta-metragem,
algo que muitas pessoas ainda não sabem
o que é.
Acredito que este modo de pensar ofenda
algumas pessoas (apesar de não ser esse o objectivo), no entanto gostava de ver
mais jovens a pronunciarem-se abertamente sobre o estado do cinema em Portugal,
uma voz no meio da multidão não se faz ouvir sozinha.
André Matos giradiscosestragados.tumblr.com |
O meu pai disse-me uma vez, em
pequeno, que quando fosse mais velho e crescesse, eventualmente, os filmes
iriam aborrecer-me, que mais tarde deixaria de gostar de cinema. Até hoje, não
aconteceu. Gosto muito de ver, e de por vezes, criar os meus filmes. E é acima
de tudo, o amor pelas palavras e pelas imagens do cinema que me agita, me
desassossega e me faz querer fazer algo mais.
Acredito que existem vozes que continuam por ouvir. E esse silêncio, por
falta de força, ou por falta de criatividade para conseguir fazer ouvir o que
têm para dizer - é o que me incomoda. Hoje não é necessário que murmurem –
precisamos de pessoas que rujam, que se façam respeitar, no meio de todo o
ruído; e que se distingam pela vozes que têm, e pelo modo em como dizem aquilo
que pensam. Falo de vozes jovens. Novas.
Em ebulição. A arder. Prontas a mostrar e a provar que estão prontas para o
futuro. Grande parte dos filmes portugueses que chegam à sala hoje em dia,
soam-me a ecos antigos, a canções gastas e a vozes cansadas. Nesse sentido, eu,
enquanto espectador, procuro encontrar-me com as vozes, que me querem falar do
que é o hoje. Do que é gostar de alguém hoje em dia, do que é existir hoje, dos
problemas de hoje – quero sentir-me próximo daquelas imagens e quero aprender
algo com elas.
A NAFF foi criada com um propósito muito claro – A de
ser um altifalante, de fazer ouvir e dar eco
a quem não tem voz. Estes filmes
de jovens artistas, que nunca se viram projectados, porque muitas vezes o meio
não os permite romper essa barreira – agora, podem ser vistos, apreciados e
experienciados, por todos aqueles que se quiserem encontrar com eles.
Estou muito feliz, porque vejo uma nova geração de criadores a nascer. A
conceber filmes independentes, e que apesar de serem auto-financiados, com muito
poucos meios – me apresentam novas perspectivas e novos olhares sobre a
realidade. As dificuldades, estão a tornar-nos fortes, capazes e prontos de
fazer nascer novos modos de criar e de se pensar cinema. Estou acima de tudo,
feliz, por poder assisti-lo de perto e por poder fazer parte dessa frente. Este movimento e vontade é evolução, estamos
a crescer!
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